Tênis
Melhor que qualquer religião, o tênis ensina a lição mais importante que precisamos aprender: se der errado, a culpa é sua.
“Sabe por que o tênis é considerado um esporte difícil?
Porque ele não permite desculpas. Não existe enrolação ou alguém para culpar, caso seja necessário.
Tênis é para quem aceita o protagonismo. Independente de acertar ou errar, é o seu esforço em jogo. Pode ser um fardo (ou um alívio) carregar sozinho toda a responsabilidade do sucesso.
A maioria das pessoas não está preparada para isso porque a pressão é enorme. É mais fácil se esconder, se omitir, fazer mais ou menos. Ou não fazer. Tênis não é como o futebol, que basta enrolar umas meias para criar a bola e começar a jogar.
Você precisa de um tênis, raquete, estoque de bolas e uma quadra. É parte do desafio. Assim como a vida, ele seleciona quem pode participar. É quase a encarnação perfeita da meritocracia. Você precisa merecer.”
Minha última vez dentro de uma quadra de saibro foi em 2021. Na época, ia com a Natalia e nossos sobrinhos para brincar. Estava bem longe de ser uma partida. Na verdade, fora as aulas e “brincadeiras", eu devo ter disputado apenas uma ou duas partidas. Perdi todas.
Meu chefe tem uma quadra no condomínio em que mora. A gente estava bebendo em um bar e falei para a gente marcar uma partida. As coisas que dizemos bêbados. Ele realmente marcou.
O problema do tênis é que o tempo de prática conta muito. Você não pega timing de bola e movimento só pela TV ou tutoriais no YouTube. Sem falar no condicionamento físico. O meu é inexistente. Comprometido pela hipertensão, minha única atividade física atualmente é o pilates — que não tem nada de cardio.
Depois tem a parte do equipamento básico. Meu tênis era profissional, com proteção para o tornozelo e tudo. Só que comprei ele em 2017. Me deu medo dele abrir todo no meio do jogo. Já sabia que iria passar vergonha com meu desempenho, não precisava sofrer com a sola do tênis ficando pelo meio do caminho.
Fui para a bosta do BH Shopping comprar um novo par. Dentro das possibilidades financeiras do momento, comprei o mais confortável e falei para a Natalia: “vamos voltar a jogar essa porra com frequência.", pois o tênis não serve para correr. É só para jogar tênis.
O vendedor da loja me sacou a máquina de cartão de crédito. Tomei um susto. Falei que eles eram ligeiros demais, mas caiu a ficha. Perguntei se os caixas haviam acabado. Ele respondeu que sim. Falou sobre um projeto piloto em São Paulo. Nele não existiam nem vendedores. Depois comentou que atualmente faz trabalho de vendedor, caixa e estoquista — você não precisa nem perguntar se o salário dele aumentou ou se recebe mais por fazer três funções.
Voltei para casa com meu tênis preto de jogar tênis e três pares de meias pretas (embora eu não use meias iguais há uns cinco anos, achei que eram confortáveis). Fiz um reconhecimento da raquete treinando domínio de bola, estiquei a perna, treinei a pose de saque e me senti pronto para o vexame.
Domingão. 10h da manhã. Sol de rachar. Lá estava eu, com uma mochila com uma garrafa de Gatorade azul em temperatura ambiente, uma bolinha solitária e uma maçã Pink Lady. Fiz o aquecimento com o chefe e entramos na quadra.
A boa notícia é que ainda sei sacar. Sem força, mas com mais acertos que erros. Inclusive, ainda sei sacar com efeito (isso eu aprendi no YouTube). Também fiquei feliz de enxergar a bola e não ter isolado nenhuma delas na janela de um carro importado. Por fim, também reforçou o quanto tênis é meu esporte favorito de jogar.
A má notícia (para mim, claro) é que fui humilhado por 6 a 0 e 8 a 0. Não conseguia devolver as bolas com o top spin necessário. Muita força para pouca técnica/controle. E esqueci do protetor solar. Mas notícia ruim vem aos poucos. Hoje, segunda-feira, acordei com dor na coluna, nas pernas, no punho direito e nos dois braços.
Idade é uma merda, mas jogar tênis é do caralho.